Atendendo especial convite da minha amiga Ranne Couto, estou estreando essa coluna aqui no blog Entre na Festa!. Será um prazer compartilhar com você um pouco da minha experiência no mercado de festas infantis.
A ocasião é das mais oportunas, já que minha primeira decoração de festa infantil está completando 25 anos (estou ficando véinho, minha gente!).
Quero começar relembrando um episódio curioso que vivenciei durante uma palestra sobre festas infantis. Uma participante levantou a mão e desabafou sobre sua experiência: um mercado competitivo no qual ela luta contra profissionais que cobram preços irrisórios, clientes que desejam decorações suntuosas e orçamentos simbólicos… A pergunta final veio em tom de desespero: “Estou no caminho certo?”.
Quando decoradores iniciantes me fazem essa pergunta fatídica, fico com uma vontade louca de responder: “Calma, tudo vai ficar bem”.
Mas isso seria uma medida paliativa, que traria um conforto temporário. Prefiro ser realista.
Ao contrário do que se imagina, decoração é, antes de mais nada, um trabalho braçal. Nossa principal atividade é a “mudança”. Sabe aquela mudança de casa que você fica postergando? Ou aquele remanejamento de móveis dentro da sua casa que você insiste em deixar para a semana seguinte?
Então, na decoração de festas carregar móveis e objetos é um trabalho cotidiano. Para transformarmos espaços, precisamos deslocar nosso acervo. Separamos materiais, carregamos caminhão, descarregamos no salão, montamos a festa, desmontamos, recarregamos o caminhão e devolvemos tudo no galpão. Ufa!
“Criar” uma decoração é apenas uma das muitas etapas de nosso trabalho, que envolve ainda a burocracia do dia-a-dia, como o controle de entradas e saídas de dinheiro, planejamento da manutenção de materiais e da logística das festas, elaboração de orçamentos, visitas técnicas…
Para aqueles que ingressam nesse mercado acreditando que viverão um mundo de fantasia, a rotina pode ser um choque de realidade. Para que você possa dar asas à imaginação, criando decorações incríveis, há todo um alicerce a ser preparado.
Sobrevivem aqueles que compreendem que não dá para fazer tudo sozinho. É preciso abrir mão do lucro para cercar-se de funcionários ou terceirizados que sejam o suporte de seu trabalho. Contar com o braço amigo dos maridos e parentes é uma ajuda, mas só no começo da sua jornada. No final das contas, cada um já tem sua profissão e uma hora vão se irritar por terem que abrir mão de mais um fim de semana trabalhando ao seu lado…
Diante de tantos desafios, devolvo a pergunta para a decoradora que estava na plateia: “Decoração é a sua vocação?”.
Se você escolheu esse ofício simplesmente para ocupar um tempo ocioso da sua vida ou se achou que ficaria milionária decorando festas, sinto decepcioná-la. Mas se você exerce a decoração porque é uma paixão que brotou desde criança dentro de você, você está no caminho certo. Mesmo diante dos desafios diários que o trabalho exigirá, você encontrará um prazer absurdo em sua rotina. Afinal, essa é a sua vocação e não simplesmente sua profissão.
Pergunte-se: a decoração nasceu com você ou é algo que você forçou para que entrasse na sua vida? Esse exercício por si só será suficiente para demonstrar se você está ou não no caminho certo…
Ciente de que se trata de sua vocação, aí sim é hora de absorver o meu conselho: “Calma, tudo vai dar certo!”.